Oriente médio

Seis ativistas do barco Madleen são deportados de Israel, incluindo brasileiro Thiago Ávila

Iate que tentava romper bloqueio de Israel a Gaza para levar ajuda humanitária foi interceptado na segunda-feira (09/06); Itamaraty confirma retorno do brasileiro.

Itamaraty confirmou deportação do brasileiro Thiago Ávila nesta quinta-feira (12) -  (crédito: MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES DE ISRAEL)
Itamaraty confirmou deportação do brasileiro Thiago Ávila nesta quinta-feira (12) - (crédito: MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES DE ISRAEL)

Seis ativistas detidos por Israel após o barco Madleen ter sido interceptado a caminho de Gaza foram deportados nesta quinta-feira (12/06), confirmou o Ministério das Relações Exteriores de Israel.

Entre os que partiram estavam o brasileiro Thiago Ávila e Rima Hassan, deputada franco-palestina do Parlamento Europeu.

A ativista sueca Greta Thunberg, que também estava no Madleen, já havia sido deportada.

Segundo o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, o Itamaraty, Ávila embarcou em um voo comercial com destino a Madri, onde fará conexão para o Brasil.

"O governo brasileiro confirma, com satisfação, a libertação do ativista Thiago Ávila", escreveu em nota o Itamaraty.

"Desde a interceptação (...) o Ministério das Relações Exteriores, por meio da Embaixada do Brasil em Tel Aviv, atuou de modo a garantir a segurança e a integridade física do brasileiro. Manteve, igualmente, contato frequente com seus familiares no Brasil, de modo a informá-los acerca do estado de saúde do brasileiro e das perspectivas de sua libertação e retorno."

Mais cedo, o grupo israelense de direitos humanos Adalah havia informado que o grupo estava sendo transferido para o Aeroporto Ben Gurion "após mais de 72 horas sob custódia israelense".

A Adalah, que prestou assessoria jurídica aos ativistas, informou que dois deles — Pascal Maurieras e o jornalista Yanis Mhamdi, ambos cidadãos ses — ainda estavam sob custódia israelense enquanto aguardavam a deportação, prevista para a tarde de sexta-feira (13).

Thiago Ávila olhando para o lado durante a noite, em área portuária
MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES DE ISRAEL
Itamaraty confirmou deportação do brasileiro Thiago Ávila nesta quinta-feira (12)

Completam a lista de deportados na quinta-feira Mark van Rennes, da Holanda; Suayb Ordu, da Turquia; Yasemin Acar, da Alemanha; e Reva Viard, da França, informou a Adalah.

Em um comunicado emitido antes da deportação dos seis ativistas, a Adalah afirmou que, enquanto estavam sob custódia, eles "foram submetidos a maus-tratos, medidas punitivas e tratamento agressivo, e dois voluntários foram mantidos em confinamento solitário por um período."

Segundo os advogados que auxiliam Thiago Ávila, ele foi uma das pessoas colocadas em confinamento solitário. O brasileiro também anunciou ter feito uma greve de fome durante sua detenção.

Em uma publicação na rede social X, o Ministério das Relações Exteriores de Israel anunciou a deportação de forma irônica: "Mais seis ageiros do 'iate das selfies', incluindo Rima Hassan, estão saindo de Israel."

"Adeus, e não se esqueçam de tirar uma selfie antes de partir", acrescentou o ministério.

A publicação no X traz fotos dos ativistas entrando e dentro de um avião.

Mapa mostra trajeto do iate, que saiu em 1º de junho da Catânia e e chegou em 9 de junho perto de Gaza, onde foi interceptado pelas forças israelenses
BBC

Um grupo de 12 pessoas navegava no iate Madleen quando este foi interceptado pelas autoridades israelenses na madrugada de segunda-feira (09), a cerca de 185 km do oeste de Gaza.

A expedição, organizada pela Coalizão da Flotilha da Liberdade (FFC), tinha como objetivo entregar uma quantia "simbólica" de ajuda a Gaza — desafiando o bloqueio israelense e destacando a crise humanitária na região.

Na ocasião, o Ministério das Relações Exteriores de Israel desprezou a ação, classificando o barco como um "iate para selfies" que transportava o equivalente e "menos de um caminhão de ajuda humanitária".

Após a detenção dos ativistas, quatro pessoas, incluindo Greta Thunberg e dois cidadãos ses, concordaram em ser deportados imediatamente.

De acordo com a CNN Brasil, Ávila teria sido um dos ativistas que se recusou a documentos de deportação.

O Ministério das Relações Exteriores de Israel havia afirmado que aqueles que se recusassem a os documentos de deportação enfrentariam processos judiciais para serem retirados do país, de acordo com a lei israelense.

Ao chegar à França, Thunberg acusou as autoridades israelenses de sequestrá-la e a outros ativistas no barco enquanto estavam em águas internacionais.

O Ministério das Relações Exteriores de Israel afirmou que tentativas não autorizadas de violar o bloqueio a Gaza eram "perigosas, ilegais e minavam os esforços humanitários em andamento".

Acrescentou que a ajuda transportada no barco da FFC, que incluía fórmula infantil e medicamentos, seria transferida para Gaza "por meio de canais humanitários reais".

Novo movimento pró-palestinos é detido

Em outra frente, ativistas que planejavam se juntar a uma marcha pró-palestinos do Egito até a fronteira sul de Gaza foram detidos no aeroporto do Cairo na quinta-feira, informou o grupo organizador.

A Marcha Global para Gaza afirmou que cerca de 170 pessoas estavam enfrentando "atrasos e deportações" no aeroporto.

O Ministério do Interior do Egito não comentou as prisões. Seu Ministério das Relações Exteriores emitiu um comunicado na quarta-feira (11) afirmando que a aprovação prévia de órgãos estatais era necessária para viajar para a área da fronteira de Gaza.

Cerca de 1.500 manifestantes também viajaram em um comboio de vários veículos da Tunísia até a Líbia, com o objetivo de entrar no Egito para chegar à fronteira com Gaza.

Israel e Egito mantêm um bloqueio em Gaza desde 2007, quando o grupo Hamas assumiu o controle do território ao expulsar seus rivais, um ano após vencer as eleições legislativas.

O ministro da Defesa israelense, Israel Katz, pediu ao Egito que impeça o que ele chamou de "chegada de manifestantes jihadistas à fronteira entre Egito e Israel".

Ativistas com bandeiras palestinas em ônibus
Getty Images
Um comboio ou pela Líbia com o objetivo de chegar a Gaza

Israel suspendeu todas as entregas de ajuda humanitária e suprimentos comerciais para Gaza em 2 de março e retomou sua ofensiva militar duas semanas depois, rompendo um cessar-fogo de dois meses com o Hamas.

O país defendeu que as medidas visavam pressionar o grupo a libertar os reféns ainda mantidos em Gaza, mas as Nações Unidas (ONU) alertaram que a população de 2,1 milhões de Gaza enfrenta níveis catastróficos de fome devido à escassez de alimentos.

Há três semanas, Israel lançou uma grande ofensiva para assumir o controle de todas as áreas de Gaza.

Também aliviou parcialmente o bloqueio, permitindo a entrada de uma quantidade "básica" de alimentos.

Israel agora prioriza a distribuição por meio da Fundação Humanitária de Gaza, que apoia juntamente com os EUA.

A ONU e outras organizações se recusam a cooperar com o novo sistema, alegando que ele viola os princípios humanitários de neutralidade, imparcialidade e independência.

Já se aram 20 meses desde que Israel lançou uma campanha militar em Gaza em resposta ao ataque transfronteiriço liderado pelo Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023, no qual cerca de 1.200 pessoas foram mortas e outras 251 foram feitas reféns.

Pelo menos 55.207 pessoas foram mortas em Gaza desde então, de acordo com o Ministério da Saúde do território, istrado pelo Hamas.

*Com informações adicionais da BBC News Brasil em São Paulo

BBC
Alys Davies - BBC News
postado em 12/06/2025 20:37 / atualizado em 12/06/2025 22:24
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