
A expectativa em torno da recuperação de Miguel Uribe, senador e pré-candidato à Presidência da Colômbia, de 39 anos, após ser baleado na cabeça e no joelho durante ato de campanha em Bogotá, mistura-se às investigações sobre o que teria motivado o adolescente, de 15 anos, a ataca-lo e o alerta para intensificar a segurança no país e garantir a estabilidade a menos de um ano da corrida presidencial. Para o presidente colombiano, Gustavo Petro, o estranho é que no momento do ataque, Uribe estava com apenas três, dos sete seguranças, que deveriam fazer sua proteção. Na Colômbia, a proteção de políticos de alto perfil ou de pessoas ameaçadas fica a cargo de uma entidade oficial.
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"Da minha parte, devo informar que a equipe de proteção do Senador Uribe foi estranhamente reduzida no dia do ataque: de sete para três pessoas. Solicitei ao Conselho de Segurança que investigasse este incidente o mais detalhadamente possível", afirmou o presidente Petro na rede social X. Segundo o advogado Víctor Mosquera, que faz a defesa de Uribe, só este ano, foram apresentados mais de 20 pedidos para reforçar a segurança do pré-candidato, mas nenhum foi atendido, inclusive informou que o políticos fez viagens pelo país sem escolta alguma.
Paralelamente, a Unidade Nacional de Proteção, alvo das denúncias, anunciou ter instaurado as apurações sobre o caso, enquanto o Ministério da Defesa colombiano ofereceu US$ 1 bilhão para quem ajudar com informações. Pelos 188 policiais investigam o ataque. A procuradora-geral, Luz Adriana Camargo, está determinada em descobrir quem são os mandantes do ato. O adolescente, que atirou contra Uribe, é mantido sob os cuidados das autoridades policiais para prestar esclarecimentos. Ele disse que foi orientado por um usuário de drogas para atacar Uribe, mas as informações são superficiais e ainda inconsistentes. Já se sabe que a arma utilizada no crime, um revólver calibre 9 milímetros, foi comprada nos Estados Unidos.
Dúvidas
A procuradora-geral avisou que o jovem foi baleado na perna e submetido à cirurgia, podendo ficar até oito anos detido, em local próprio para menores, se for considerado culpado. Por enquanto, a principal linha de investigação é que o suspeito foi cooptado por uma rede para executar "condutas graves", como o ataque ao pré-candidato presidencial. Mas a dúvida que permanece é: por que ele? Também há questionamentos sobre os impactos desse ato na campanha eleitoral, afinal o primeiro turno das eleições será em 31 de maio de 2026, enquanto o segundo, está marcado para 21 de junho do próximo ano.
Com pesquisas sobre América Latina, o professor Roberto Goulart Rodrigues, do Departamento de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), reiterou que o ataque no momento atual a Uribe surpreende não só os colombianos, mas os observadores globais. "Desde o acordo de paz na Colômbia, em 2016, quando os cartéis foram desmantelados, não se via violência no cenário político. O próprio Uribe concorreu à Prefeitura de Bogotá, em 2022, e nada aconteceu", disse. "Algo é certo: os impactos vão repercutir nas eleições, impossível não imaginar que isso deixe de acontecer", acrescentou. "Mais uma vez, segurança será o tema central da campanha eleitoral na Colômbia, certamente."
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Após ser atingido na cabeça por duas balas e outra no joelho, Uribe ou por duas cirurgias e segue em recuperação. Internado na UTI da clínica Fundação Santa Fé de Bogotá, o local em frente virou um verdadeiro santuário. Seguidores e eleitores depositaram flores, acendem velas e fazem orações. No Senado, a cadeira do parlamentar foi coberta pela bandeira da Colômbia e colocada uma foto dele com o dizer: "Estamos te esperando". Em comunicado, a clínica informou que o estado de saúde do político é extremamente grave e com prognóstico reservado". Ao El Tiempo, Maria Claudia Tarazona, mulher de Uribe, disse que aguarda um milagre.
Para saber mais...
Bastante popular na Colômbia, o advogado Miguel Uribe Turbay vem de uma família de políticos e é muito próximo ao ex-presidente Alvaro Uribe, crítico do atual governo de Gustavo Petro, e com quem compartilha mesmo sobrenome, mas não tem ligações sanguíneos. A mãe dele, Diana Turbay era jornalista, foi sequestrada e assassinada em 1991 durante uma operação de resgate por narcotraficantes do Cartel de Medellín sob o comando de Pablo Escobar. O avô Julio Cesar Turbay Ayala, governou a Colômbia, de 1978 a 1982, morreu em 2005.
Três perguntas para
Andrés Macías Tolosa, coordenador do Grupo de Investigação da revista científica Opera, professor da Faculdade de Finanças, Governo e Relações Internacionais da Universidade de Externado da Colômbia
Como o senhor analisa esse ataque a Miguel Uribe e quais seriam as motivações por trás dessa violência?
É um ataque inédito na Colômbia há mais de 30 anos. É gravíssimo e ocorre em um momento muito tenso no país, visto que estamos em um ano pré-eleitoral com muitos candidatos já em campanha. É um ataque com enorme simbolismo político: Miguel Uribe tem sido um dos principais opositores do governo nacional e despontava como um dos fortes concorrentes nas eleições presidenciais, o que evidencia um possível retorno da violência política, contra candidatos — algo novo em mais de três décadas. Somado a isso, há a saúde delicada de Miguel Uribe, que também representa um enorme desafio à estabilidade democrática do país.
Em relação aos motivos do atentado contra sua vida, surgiram três hipóteses: a primeira, de que se trata de um ataque a Miguel Uribe como pessoa, devido às suas posições políticas e ideológicas. O segundo aspecto é o fato de ser um ataque ao grupo político ao qual pertence, o Centro Democrático, e às diretrizes políticas desse partido. E, o terceiro é que se trata de um ataque que busca minar e desestabilizar o atual governo, buscando demonstrar que a violência, tanto geral quanto política, aumentou nesse período.
Na sua opinião, esse ataque agrava ainda mais a polarização, o ódio e a agressão?
Sim, acredito que é possível. E pode ser uma evolução natural após o ataque, ou também um evento que pode ser explorado por atores políticos no período que antecede a eleição. Agora, o que vimos até agora foi um apelo geral de vários atores políticos para se comprometerem a não transformar esta eleição em uma eleição repleta de violência verbal e simbólica, o que, à primeira vista, pode ser positivo; teremos que esperar para ver se esse compromisso pode ser mantido. Mas o mais grave é que, se isso não acontecer, e se o sentimento e as mensagens de ódio aumentarem, esse seria o cenário mais grave e complexo.
Pelo histórico político da Colômbia, quais propostas de Miguel Uribe podem gerar desconforto?
Nesse momento, os candidatos ainda não têm um plano claro e concreto. No entanto, diferentemente de outros candidatos, Miguel Uribe é atualmente um senador em atividade e, no Senado, representando o partido Centro Democrático, expressou uma rejeição contundente à maioria das iniciativas do atual governo. Ele representa uma das principais vozes de oposição ao governo de Gustavo Petro, o que, sem dúvida, gera desconforto dentro do governo nacional.
Eu acho...
"Esse ataque coloca em alerta toda a nossa região, inclusive o Brasil, pois afinal, ano que vem temos eleições presidenciais aqui. Não podemos deixar de observar que há um clima de polarização e também possibilidade de violência. Em relação à Colômbia, é importante observar a quem interessa um Miguel Uribe baleado? Temos de acompanhar os desdobramentos desse episódio. Ele vindo a sobreviver ará a ser um símbolo de luta contra a violência e de esforço por mais segurança em todo território colombiano."
Roberto Goulart Menezes, professor do Instituto de Relações internacionais da UnB
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